Quando espero pela minha vez para entrar no Shala, sentada no hall de entrada, posso observar e sentir a prática de uma outra perspectiva. Vejo uma sala cheia, pulsante, quente. Numa curiosa coreografia, encenada sobre o fundo colorido dos tapetes e iluminada pela luz branca da manhã tropical, dezenas de pessoas, movimentam uma energia poderosa. Cada uma olha para dentro de si, no entanto, quando as observo individualmente, tenho a sensação que cada uma delas ocupa toda a sala. Comigo, outras pessoas esperam. Entram, sentam-se. Ninguem ousa nem ninguem quer falar. Só se ouve o shala respirar. Inspirar, expirar. Muito forte.
Somos pessoas dos quatro cantos do mundo, de todas as raças, de todas as idades. Tantas vidas, tantos passados, tantas energias, tantas motivações. Naquele momento e na hora seguinte, existe um ponto em que nada as distingue de mim. Em que nada as distingue das pessoas que praticam dentro da sala. Quando a prática nos toma, quando somos tomados pela prática, quando nos entregamos.
Recordo-me de uma conversa recente, na qual várias pessoas discutiam a relatividade de todos os assuntos em virtude da perspectiva do observador. Contaram-me, então, uma história sobre o Guruji. Uma das primeiras ocidentais que veio praticar com o Guruji, há cerca de 2o ou 30 anos, aquando de uma das suas estadias em Mysore ficou severamente doente, com um febrão que a levou ao hospital por 2 semanas. Quando regressou à prática, explicou a sua ausencia relatando o sucedido. Com um sorriso o Guruji respondeu: " Yoga fever, very good! Now the heart is open". Olho para dentro do shala e observo o ritmo lento, denso, da coreografia. Cada um pratica individualmente, mas a energia é a mesma, a devoção é a mesma, o amor é o mesmo. Olho à minha volta e vejo rostos tão diferentes. E passados, energias, idades, raças. E o que nos traz aqui? Love and devotion...!